segunda-feira, 26 de outubro de 2009






Diário do Professor






Leitores sensíveis, não leiam. É apenas mais um desabafo pessimista.

Não digam que não avisei.

Sinto-me um cobaia, um professor cobaia.

Pego meus sentimentos, apreensões, sofrimentos e os transformo em observações, escritas para quem quiser ler.

Quem quiser saber / ver como é a escola por dentro, observar as entranhas, acompanhar a movimentação do Professor Truman, é só ligar o computador.

Às vezes são sentimentos que gostaria de ver sufocados, escondidos, suprimidos.

Mas vamos lá…

Tenho nojo de certos alunos ou alunas. Frase forte, mas real.

Tenho ânsias antes de determinadas turmas, especialmente no tempo presente, no qual me sinto absolutamente sem forças nem vontade de fazer nada.

Sinto uma frustração tão grande, uma frustração por não conseguir nada, não fazer nada, não mudar nada.

Entro em sala. Uma "daquelas".

Em 5 minutos de aula, voam bolinhas de papel, arrancados dos cadernos em direção à lixeira – apesar de por muitas e muitas vezes ter falado sobre o desperdício de papel, a relação com o corte de árvores, com o plantio de áreas extensas, etc.

Passam-se duas aulas inteiras – cerca de 1:30h – sem ao menos 5 minutos de silêncio (não seguidos!), sem ao menos 5 minutos sem ficarem se xingando, se batendo, se sacaneando… – apesar de por diversas vezes ter conversado sobre amizade, conversas sem xingamentos, futuro, etc.

Estou frustrado e absolutamente desmotivado de dar aulas.

Não sinto vontade de dar bom-dia.

Tenho que vencer uma resistência de castelo medieval para fazer a chamada porque, para tanto, tenho que falar os nomes dos alunos.

É claro que há turmas em que este sentimento é nítido e forte, e há turmas em que ele se apresenta moderado. Há alunos que tolero – e até gosto de conversar – e há alguns que não consigo nem olhar, sob o risco de passar mal.

Mas o fato é que sinto uma frustração que não consigo descrever nem mesmo comparar.

E ela vem quando percebo que, após 10 anos de tentativas, ideias, leituras, estudos, reflexões, brigas, planejamentos, a escola é a mesma; aliás, é pior.

Os alunos são piores, ladeira abaixo em caminhão sem freio.

Tudo o que tenho – ou o que vejo à minha frente –  é uma turma de mal educados desinteressados no que tenho a oferecer, um livro e um quadro negro agora branco.

Fora isso, a cobrança da sociedade: pais, mães, secretaria de educação, sociólogos, polícia, conselho tutelar, direção, todos acham que o responsável pelo que eles não aprendem somos nós, professores.

E somos também responsáveis pelo seu mal comportamento, sua má educação, seu envolvimento com a violência, seu fracasso na vida e na sociedade.

Mas se aprendem, foi por conta de um projeto externo à escola, nunca por nosso mérito.

Tudo é culpa do professor, que é mal preparado, mal formado, que falta, que não planeja, que não faz por merecer o salário milionário que pagam a ele.

Nós deveríamos ser presos!

Declev Reynier Dib-Ferreira

Professor Truman




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