““Abra o
coração e feche a geladeira” (“Made
to Crave”, Editora Thomas Nelson), de Lysa TerKeurst, é uma
abordagem cristã ao tema “fazer as pazes com a balança”, mas o assunto
principal é o relacionamento com Deus e o domínio próprio. Lembro que por muito
tempo eu queria me convencer de que tinha Deus, mas escorregava sempre na falta
do bendito domínio próprio. Como a Bíblia deixa muito claro que ele é uma das
características do Fruto do Espírito, tive que engolir meu orgulho e assumir
que precisava nascer de novo.
Achei bacana esse assunto em um livro cristão. Porque o
pensamento religioso corrente é quase o de que somos almas penadas vagando por
aí sem corpo! Acho engraçado como as pessoas têm coragem de dizer que cuidar da
alimentação não é um assunto espiritual, mas assim que o excesso de peso causa
doenças, correm para Deus pedindo cura. Ué, antes não era espiritual, agora é?
Será que não dá para levar isso a sério desde o começo?
Lysa teve problemas com o excesso de peso. Chegou aos 90kg e
continuava comendo de maneira emocional e dando justificativas estapafúrdias
para seus maus hábitos. Ela faz pensar sobre suas escolhas e consequências.
Se eu fosse honesta comigo mesma, minha questão seria simples e
clara: falta de domínio próprio. Poderia disfarçar e justificar esse problema
durante o dia todo, mas a verdade era que eu não tinha um problema de peso; eu
tinha um problema espiritual; eu dependia da comida para me consolar mais do
que dependia de Deus. E simplesmente era preguiçosa demais para encontrar tempo
para fazer exercícios.
Violento, não? Mas real. Quantas vezes já dissemos que Deus era
o primeiro em nossa vida, mas colocamos outras coisas na frente dele, sem
perceber? Se você depende de alguma coisa mais do que de Deus, se algo externo
ou interno (como um comportamento ou impulso) te controla, te domina, alguma
coisa está terrivelmente errada.
Achei muito legal o que ela fala a respeito do desejo. Ela
explica que o ser humano foi criado para desejar, mas que esse desejo só pode
ser satisfeito por Deus. Ansiamos Deus, mas antes de descobrirmos isso,
tentamos preencher nossas lacunas com comida, compras, relacionamentos,
entretenimento, trabalho, sexo e qualquer coisa que nos traga algum vislumbre
de prazer momentâneo. Mas aquele desejo profundo nunca é suprido…é o que muitos
denominam de “vazio”.
Quando eu era mais nova, tentava preencher esse vazio com
compras (de qualquer tipo, até na farmácia, o negócio era comprar o que meus
olhos desejassem e que pudesse ser parcelado em dez vezes no cartão!) e, antes
de me casar, com paixões platônicas. Eu não namorava ninguém e era contra
“ficar”, mas criava histórias na minha cabeça e me alimentava delas (tenho
vergonha dos meus diários daquela época, nem te conto!). Mas nunca era
suficiente, porque o vazio é um buraco negro, meus amigos, suga tudo para
dentro de si, a única coisa que acaba com ele é a presença de Deus.
Por não conseguir poder controlar muito da sua vida, Amy sentiu
que não conseguiria mais restringir as suas escolhas alimentares. A comida foi
o entorpecente que ela escolheu.
Isso é profundo. Existem pessoas usando comida como
entorpecente. E morrendo de culpa depois.
A autoestima de Lysa foi comprometida por ter sido abandonada
pelo pai e abusada pelo avô. Ela mostra que mesmo as feridas mais profundas
podem ser curadas através de um relacionamento com Deus.
Por anos a fio olhei para as flores das pessoas e secretamente
as desejei para o meu prazer. Entretanto, o vislumbre desse homem cavando fundo
da terra com suas mãos me trouxe uma nova revelação. Ele tinha um jardim porque
havia investido tempo e energia para fazê-lo. Seu desejo não foi transformado
em um jardim. Sua esperança não foi transformada em um jardim. Ele não se
levantou um dia e encontrou um jardim com flores desabrochando de forma
miraculosa na terra.
Não dá para você olhar aquela bonitona magra e definida e sentir
inveja! Se você não está disposta a pagar o preço que ela paga para ter aquele
corpo, você não quer aquele corpo. Se não estiver disposta a pagar o preço de
investir tempo e energia para fazer um jardim, você não quer um jardim.
Recomendo o livro, com toda certeza. Apesar do tema denso, a
leitura é leve e divertida, embora comece em um ritmo lento. Só não gostei do
resumo no final de cada capítulo, com perguntas para ver se o leitor entendeu.
Sempre me irrito com isso, e se alguém não se irrita, por favor, me explique
como esse tipo de coisa te ajuda que eu realmente tenho curiosidade em saber.
É diferente de ter uma tarefa no final do capítulo. Tarefa é
legal, incentiva a colocar em prática, mas esses resumos com perguntinhas,
ainda mais depois de capítulos tão curtos, me parecem cansativos.
Outro problema foi a tradução/revisão (como não tive acesso ao
original em inglês, não sei dizer se foi uma ou outra, ou as duas). Alguns
trechos precisam urgentemente ver um revisor, como o feioso abaixo:
É como descascar as camadas de uma cebola. Apenas quando você
pensa que tirou um pedaço dela, você percebe que existem muitas camadas ainda.
Um recado às editoras: respeitem os leitores. Vale a pena
investir em boa revisão, principalmente em obras traduzidas. No caso de “Abra o
coração e feche a geladeira” os erros não foram suficientes para que eu tenha
vontade de jogar o livro pela janela, mas podem atrapalhar a compreensão de um
leitor mais desatento, que provavelmente terá de ler mais de uma vez para
entender alguns trechos.
No geral, acho que o maior mérito do livro é tirar as coisas da
esfera emocional e trazer para a esfera racional. E fazer isso com leveza e
humor. Jamais me esquecerei, por exemplo, de que:
As batatinhas fritas não me amam
Lysa é radical porque o problema dela com comida era bem sério.
Não acho que devamos nos privar de todo e qualquer chocolate, por
exemplo. Cada um deve saber os seus limites, suas fraquezas e fazer as
coisas com sabedoria. Melhor se privar e ficar bem do que fazer concessões e
ver todo o seu esforço ir por água abaixo. Afinal de contas,
Nenhuma comida jamais terá o sabor mais doce do que o da
vitória."
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