domingo, 11 de setembro de 2011

Artigo do "Diário do Professor":


“É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”


Esse provérbio (que me parece africano) é de grande sabedoria.

Sabedoria que está faltando àqueles que vêm, insistentemente, criando a ideia que vem se tornando hegemônica de que toda a educação está nas mãos do(a) professor(a) – e, portanto, a causa dos problemas na educação também.

A grande mídia e os gestores de educação compromissados com quem tem o dinheiro nas mãos estão incutindo uma ideologia perigosa.

Ela vem, insistentemente, ideologizando que a culpa do fracasso da educação pública vem do professor.

Alguns cupinchas vêm se dando ao trabalho de dar a cara à tapa, como é o caso da dona cremilda e do ioschpe veja.

E o que isso traz de novo?

Com isso, a sociedade, antes defensora dos professores – que antigamente eram respeitados – começam aos poucos a se apropriar dessa ideia como verdade.

Recebi no Twitter o comentário:

Concordo com Gustavo Ioschpe em relação ao seguinte: os resultados em educação devem ser independentes do meio.

Isso é tão primário e maldoso que nem mereceria comentário, mas faço.

Comparemos duas situações, dois meios, diferentes, tais como uma “comunidade” pobre e violenta e um “bairro” de classe média alta.

Os índices de violência (mortes por assassinato, por exemplo) são os mesmos? Não. Os índices de gravidez na adolescência são os mesmos? Não. Os painéis de saúde x doença são os mesmos? Não. Os tipos de moradia são os mesmos? Não. A urbanização é a mesma? Não. Os serviços públicos oferecidos em um e em outro são os mesmos? Não. A segurança é a mesma? Não. As empresas investem da mesma forma? Não.

Mas, para o especialista em educação, os resultados em educação devem ser independentes do meio?

Ah tá…

E também recebi o comentário abaixo no artigo “A Vanguarda do Atraso”:

A avaliação não devia ser feita com os alunos, e sim uma prova para os professores. Se alunos, não consegue aprender o clássico, o básico, a responsabilidade está onde ? Nas carteiras, no multimídia ?????? ………Lógico, no educador, que não sabe se expressar e não tem domínio sobre os conteúdos, não tem didática. A avaliação devia ser para os professores, tirar os que não teem qualificação e facilitar a formação de professores melhores e consequentemente, salários bem mais atrativos para que pessoas mais capazes se interessem em dar aulas. Sou acadêmica, 3º ano de Pedagogia, 53 anos, empresária há mais de 30 anos. [sic]

Percebam a “lógica” desta senhora que – que medo! – está cursando pedagogia: o aluno não consegue aprender, a responsabilidade está onde? No professor, é claro!

E ainda faz um chiste: não poderia estar nas carteiras ou no aparelho multimídia! [rá rá rá]

É justamente isso que querem que pensemos!

Querem quem?

Os empresários que ganham dinheiro vendendo projetos educacionais; a grande mídia que é comprada pelas empresas e governos que as bancam; os secretários e secretárias de educação, que provavelmente têm algum ganho implantando projetos milionários sem licitação…

Se a responsabilidade pela má educação for ideologicamente colocada nas mãos dos professores, nunca será colocada nas mãos de quem deve ser de fato:

  • do governo (poder público), que não oferece segurança (e isso, sim, tem a ver com os resultados na educação);
  • dos secretários(as) de educação, que deixam escolas à míngua, pisam nos profissionais de ensino e ao mesmo tempo repassam aos seus amigos milhões da educação em projetos;
  • da própria grande mídia, que só veicula programas podres que ensinam bobagens, ao invés de produzir programas educativos (os primeiros dão ibope e dinheiro, os segundos, se existem, são veiculados nas madrugadas de domingo!);
  • dos políticos que roubam a verba da educação, que não votam a favor da educação;
  • da desestruturação social que estamos construindo, com o intenso abismo social que se aprofunda cada vez mais.

E então, caros leitores, uma vez todos acreditando nesta mentira ideologicamente construída, fica fácil para quem decide o destino do dinheiro da educação (que não é pouco, diga-se de passagem), desviar para seus amigos e parceiros e, quiçá, uma parte até para seus próprios bolsos.

Não é à toa que tantos grandes conglomerados se “especializaram” em projetos educacionais:

  • fundação roberto marinho
  • instituto ayrton senna
  • fundação sangari
  • fundação getúlio vargas
  • fundação bradesco
  • fundação itaú social

E por aí vai. São dezenas.

Todos dizendo que sabem fazer o que “o professor não sabe”.

E todos ganhando milhões e milhões da verba da educação.

Com isso não se tenta melhorar a estrutura da escola; não se melhora o salário e a estrutura de trabalho do professor; não se contrata mais pessoal para dar apoio aos profissionais que estão na escola; não se constroi mais escolas para diminuir a quantidade de alunos nas turmas; não se reforma as escolas para ter salas de vídeo, artes, dança, quadras decentes, informática decente, de leitura; não se deixa nas mãos do professor e da comunidade escolar a escolha de que projetos são importantes para sua escola…

Isso seria investir, de verdade, na educação.

E, pior de tudo: percebo que esta esparrela vem conseguindo adeptos.

Isso é construção de ideologia.

Abraços,

Declev Reynier Dib-Ferreira
De Olho – Anti-ideologia

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