Artigo do "Diário do Professor":
“É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”
Esse provérbio (que me parece africano) é de grande sabedoria.
Sabedoria que está faltando àqueles que vêm, insistentemente, criando a ideia que vem se tornando hegemônica de que toda a educação está nas mãos do(a) professor(a) – e, portanto, a causa dos problemas na educação também.
A grande mídia e os gestores de educação compromissados com quem tem o dinheiro nas mãos estão incutindo uma ideologia perigosa.
Ela vem, insistentemente, ideologizando que a culpa do fracasso da educação pública vem do professor.
Alguns cupinchas vêm se dando ao trabalho de dar a cara à tapa, como é o caso da dona cremilda e do ioschpe veja.
E o que isso traz de novo?
Com isso, a sociedade, antes defensora dos professores – que
antigamente eram respeitados – começam aos poucos a se apropriar dessa
ideia como verdade.
Recebi no Twitter o comentário:
Concordo com Gustavo Ioschpe em relação ao seguinte: os resultados em educação devem ser independentes do meio.
Isso é tão primário e maldoso que nem mereceria comentário, mas faço.
Comparemos duas situações, dois meios, diferentes, tais como uma
“comunidade” pobre e violenta e um “bairro” de classe média alta.
Os índices de violência (mortes por assassinato, por exemplo) são os
mesmos? Não. Os índices de gravidez na adolescência são os mesmos? Não.
Os painéis de saúde x doença são os mesmos? Não. Os tipos de moradia são
os mesmos? Não. A urbanização é a mesma? Não. Os serviços públicos
oferecidos em um e em outro são os mesmos? Não. A segurança é a mesma?
Não. As empresas investem da mesma forma? Não.
Mas, para o especialista em educação, os resultados em educação devem ser independentes do meio?
Ah tá…
E também recebi o comentário abaixo no artigo “A Vanguarda do Atraso”:
A avaliação não devia ser feita com os alunos, e sim uma prova para os professores. Se alunos, não consegue aprender o clássico, o básico, a responsabilidade está onde ? Nas carteiras, no multimídia ?????? ………Lógico, no educador, que não sabe se expressar e não tem domínio sobre os conteúdos, não tem didática. A avaliação devia ser para os professores, tirar os que não teem qualificação e facilitar a formação de professores melhores e consequentemente, salários bem mais atrativos para que pessoas mais capazes se interessem em dar aulas. Sou acadêmica, 3º ano de Pedagogia, 53 anos, empresária há mais de 30 anos. [sic]
Percebam a “lógica” desta senhora que – que medo! – está cursando
pedagogia: o aluno não consegue aprender, a responsabilidade está onde?
No professor, é claro!
E ainda faz um chiste: não poderia estar nas carteiras ou no aparelho multimídia! [rá rá rá]
É justamente isso que querem que pensemos!
Querem quem?
Os empresários que ganham dinheiro vendendo projetos educacionais; a
grande mídia que é comprada pelas empresas e governos que as bancam; os
secretários e secretárias de educação, que provavelmente têm algum ganho
implantando projetos milionários sem licitação…
Se a responsabilidade pela má educação for ideologicamente colocada
nas mãos dos professores, nunca será colocada nas mãos de quem deve ser
de fato:
- do governo (poder público), que não oferece segurança (e isso, sim, tem a ver com os resultados na educação);
- dos secretários(as) de educação, que deixam escolas à míngua, pisam nos profissionais de ensino e ao mesmo tempo repassam aos seus amigos milhões da educação em projetos;
- da própria grande mídia, que só veicula programas podres que ensinam bobagens, ao invés de produzir programas educativos (os primeiros dão ibope e dinheiro, os segundos, se existem, são veiculados nas madrugadas de domingo!);
- dos políticos que roubam a verba da educação, que não votam a favor da educação;
- da desestruturação social que estamos construindo, com o intenso abismo social que se aprofunda cada vez mais.
E então, caros leitores, uma vez todos acreditando nesta mentira
ideologicamente construída, fica fácil para quem decide o destino do
dinheiro da educação (que não é pouco, diga-se de passagem), desviar
para seus amigos e parceiros e, quiçá, uma parte até para seus próprios
bolsos.
Não é à toa que tantos grandes conglomerados se “especializaram” em projetos educacionais:
- fundação roberto marinho
- instituto ayrton senna
- fundação sangari
- fundação getúlio vargas
- fundação bradesco
- fundação itaú social
E por aí vai. São dezenas.
Todos dizendo que sabem fazer o que “o professor não sabe”.
E todos ganhando milhões e milhões da verba da educação.
Com isso não se tenta melhorar a estrutura da escola; não se melhora o
salário e a estrutura de trabalho do professor; não se contrata mais
pessoal para dar apoio aos profissionais que estão na escola; não se
constroi mais escolas para diminuir a quantidade de alunos nas turmas;
não se reforma as escolas para ter salas de vídeo, artes, dança, quadras
decentes, informática decente, de leitura; não se deixa nas mãos do
professor e da comunidade escolar a escolha de que projetos são
importantes para sua escola…
Isso seria investir, de verdade, na educação.
E, pior de tudo: percebo que esta esparrela vem conseguindo adeptos.
Isso é construção de ideologia.
Abraços,
Declev Reynier Dib-Ferreira
De Olho – Anti-ideologia
De Olho – Anti-ideologia
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